A Era do Sadismo Digital: A Internet, a Desumanização e o Uso Indevido dos Animais.
Nos últimos anos, presenciamos um fenômeno profundamente preocupante: o crescimento de comportamentos sociais que não apenas banalizam o sofrimento, como também o transformam em espetáculo. Esse fenômeno, alimentado por redes sociais e pelo consumo irresponsável de conteúdo, tem consequências graves — especialmente quando os animais são envolvidos.
Este não é um artigo sobre técnicas de adestramento. É um alerta. Um chamado à consciência. Porque, no fim das contas, educar cães exige, antes de tudo, educar seres humanos.
O Ambiente Digital e a Dissociação Moral
A internet nos conecta, mas também nos distancia do essencial: da empatia, do senso de limite e da responsabilidade.
Atrás de telas, avatares e perfis anônimos, muitas pessoas se sentem liberadas para dizer, compartilhar e reagir sem qualquer filtro ético. Essa sensação de impunidade digital cria um fenômeno perigoso: a dissociação moral.
“É como se não fizesse parte do mundo delas.”
— é assim que defino a frieza com que tantas pessoas lidam com conteúdos violentos e degradantes.
Na prática, isso significa que atos de crueldade passam a ser vistos como simples entretenimento. Como se o sofrimento fosse um produto a ser consumido — sem dor, sem empatia, sem consequência.
Quando o Sofrimento Vira Conteúdo de Entretenimento
Não é apenas o ato cruel que choca.
É a reação do público.
Vídeos que expõem violência contra animais, situações abusivas ou mesmo tragédias reais recebem comentários irônicos, memes e risadas. Isso revela um ponto crítico do nosso tempo: estamos perdendo a capacidade de nos indignar.
“As pessoas não percebem que, ao rir disso, estão se desumanizando também.”
— e esse processo é coletivo, silencioso e devastador.
No universo animal, isso se traduz em uma avalanche de vídeos onde cães são expostos a situações de sadismo, abusos, sustos ou até mesmo simulações de agressão — tudo para gerar engajamento.
A Lógica da Visibilidade: Quando a Fama Vale Mais que a Integridade
A busca por atenção nas redes sociais criou uma distorção perigosa: quanto mais extremo o conteúdo, mais visibilidade ele alcança. E essa lógica cruel tem feito com que indivíduos ultrapassem limites morais inaceitáveis.
Recentemente, dois casos revelam o quão fundo podemos cair:
Uma influenciadora foi presa sob acusação de produzir conteúdos eróticos envolvendo seu cachorro, em um dos episódios mais repulsivos e perturbadores já registrados nas redes. O caso chocou o país e evidenciou a falência ética de quem, em nome de seguidores e dinheiro, é capaz de instrumentalizar até mesmo um animal inocente.
Poucos dias antes, nos Estados Unidos, uma mulher matou seu próprio cão no banheiro de um aeroporto, alegando não poder embarcá-lo. A frieza do ato, aliado ao completo desprezo pela vida do animal, revela o quão naturalizada se tornou a crueldade.
Esses episódios não são desvios isolados. São sintomas de uma cultura em colapso, onde:
A validação social vale mais que a consciência.
Ganhar visibilidade justifica tudo — inclusive o inaceitável.
Os animais se tornam vítimas da vaidade humana.
E o mais grave: há quem consuma, compartilhe e ria disso. Isso é cumplicidade. É corresponsabilidade.
Um Convite à Responsabilidade
A internet não cria monstros. Ela dá palco para que o pior das pessoas venha à tona.
Por isso, o problema não é apenas quem publica esse tipo de conteúdo.
O problema também é quem consome, quem ignora, quem se cala, quem compartilha como se fosse algo trivial.
“O que estamos consumindo? E por que não nos indignamos mais?”
— essa é a pergunta que deixo para quem me acompanha.
Educação Canina é, antes de tudo, Educação Humana
Aqui, na Educação Canina, o trabalho vai além do adestramento.
Ele é, essencialmente, um trabalho de consciência, respeito e ética.
Porque não existe boa educação canina se não houver, do outro lado da guia, um ser humano disposto a ser melhor.
Melhor com o cão, melhor com as pessoas, melhor com o que compartilha, melhor com o mundo.
Nenhum animal existe para alimentar o ego de ninguém.
Cães são vidas. E merecem ser tratados com dignidade, sensibilidade e responsabilidade.