Impulsividade é o mal da nova era, sem sombra de dúvidas. Isso vale para os cães e para nós humanos também. Somos condicionados diariamente a responder instantaneamente a estímulos diversos, sem pensar, apenas no calor da emoção. A era da tecnologia, infelizmente, trouxe isso para nossas vidas. Vamos agora fazer os paralelos entre esse mundo novo para nós, e a resposta dos cães modernos.

Muito se fala sobre como o cão se torna um espelho do dono, e como nossas atitudes, postura e formas de agir, e reagir, se manifestam no comportamento dos nossos cães. Existe uma realidade por trás disso, se pensarmos que os cães respondem à nossa forma de comunicação. Cães que vivem com pessoas ansiosas tendem à ter muita dificuldade de relaxar. Cães que vivem com pessoas muito carentes tendem a ser cães com muita dificuldade de ficarem sozinhos, e por aí vai.

Mas como tudo isso entra no conceito de comportamento impulsivo? Na verdade, se pensarmos em todas essas reações humanas, e como elas desencadeiam uma ilusão de necessidade imediata, todos esses exemplos estariam na categoria de comportamento impulsivo. Uma pessoa ansiosa, normalmente é assim porque sua resposta emocional é sempre de antecipação, ou seja, a pessoa ansiosa, está constantemente preocupada com o que vai acontecer no futuro, logo, essa é uma resposta impulsiva e não racional. É uma ação no calor da emoção.

No mundo dos cães, muitas vezes sem querer, criamos esses hábitos neles. Exemplos clássicos são quando ensinamos alguns comandos básicos aos cães, como senta e deita, com comida, e ficamos satisfeitos apenas com aquela resposta imediata, de meio segundo que o cão oferece. Nesse momento, não pensamos aonde esses comandos podem ser úteis em nossas vidas com os cães, e porque a duração dentro desses comandos seria o elemento mais importante. Focamos apenas na resposta imediata, logo, é isso que o cão aprende.

Mas podemos explorar também respostas impulsivas naturais dos cães, que se manifestam, e à longo prazo se tornam padrão por falta de intervenção. A primeira vez que um filhote escuta o barulho do interfone, ou da campainha. Ele late, ninguém faz nada, e isso se torna a validação que ele precisava para tornar dessa uma resposta padrão. Muitos cães inseguros, em suas primeiras experiências sociais, vocalizam ou até avançam em pessoas e outros animais que se aproximam, simplesmente por não saber o que fazer nessa situação. Isso também é uma resposta impulsiva, que sem a devida intervenção, se torna o comportamento padrão, à longo prazo.

O que é importante de ser visto aqui é, a resposta impulsiva sempre vai ser a primeira, imediata, levada pelo calor da emoção, ou seja, cães inseguros podem recuar de uma situação, cães agitados podem não saber parar, cães atentos podem querer explorar tudo à seu redor durante horas, e cães agressivos vão entrar conflito sem pensar. Todas são respostas de impulsividade, aonde o elemento de ponderação é inexistente, ou seja, o cão não tem a habilidade de considerar as possíveis consequências dessa reação, ele apenas faz.

Como se livrar desse problema?

O processo de reconstrução acontece quando literalmente desaceleramos o cão e passamos a fazer parte de todo o processo de tomada de decisões dele, em todos os momentos do dia. Tudo isso começa com restrições e liberdade supervisionada, dentro de atividades com direção. Esses são os famosos treinos diários que fazemos com os cães, aonde recriamos cenários diferentes, e intervimos nas decisões do cão, mostrando as opções certas e erradas, em todas as situações.

É aqui que entram os equipamentos de treinamento, já que eles vão te dar a oportunidade de intervir e guiar o cão durante essa jornada. Isso vale para cães que puxam na guia, cães que latem constantemente, cães que não sabem ficar parados, cães que atacam pessoas e etc. Tudo isso, nada mais é, do que o trabalho intenso de controle de impulsos, num universo diversificado.

O outro lado dessa moeda é a real intenção dos humanos em mudar de fato a associação desses cães. É talvez aqui que tudo se determina. É importante que cada um de nós, humanos, que temos cães com essa característica, tenhamos em mente se realmente queremos de verdade ver essa mudança acontecer. Muitas pessoas se acostumam tanto com a resposta impulsiva de seus cães, que quase não os reconhecem quando eles passam a agir de forma mais tranquila. É como se o novo cão, agora mais centrado, deixasse de ser aquele indivíduo que tanto incomodava, mas que era tudo que os donos queriam.

Essa reação humana é uma resposta desse nosso espelho de validação. Para muita gente, o cachorro problema é uma espelho das nossas falhas, e por isso, se torna uma identificação necessária para que o humano não se modifique também. No final, a mudança tem que acontecer para os dois lados, ao mesmo tempo. O cachorro vai te dar aquilo que você pede dele, logo ele precisa que você faça essa escolha. Ele vai reagir de acordo, mudando ou não.

Comportamento impulsivo sempre vai ser a grande raiz dos problemas dos cães, mas na maioria das vezes, esse problema não é visto como deveria ser, e suas sequelas ficam espalhadas em diversos pedacinhos de comportamentos negativos, que só vão te dar pistas de onde está o real problema do cão.