Projeto de Lei 108/2021 de Minas Gerais – Como chegamos até aqui?
/Hoje eu gostaria de não ter que escrever esse texto. Eu teria muito mais prazer em falar de coisas novas e progredir no nosso diálogo sobre cães mas infelizmente isso não é possível. Mais um vez estamos de frente com mais uma proposta do estado de acabar com nossos direitos como pessoas e profissionais, no que diz respeito ao manejo e convívio com nossos cães.
Eu me pego me questionando sobre como chegamos até aqui? Estamos num mundo com muito mais informação disponível do que jamais tivemos, com muito mais acesso à toda essa informação, e ainda assim, temos de parar tudo para brigar contra essa proposta absurda que mais uma vez usa os cães como justificativa para mover uma agenda que só vai custar a vida desses animais.
Os cães cada vez mais são usados como slogans de campanhas publicitárias e políticas para beneficiar grupos de indivíduos que pouco se importam com o real bem estar desses animais.
Desde que tive meu primeiro cão, lembro de ver os apelos frequentes de ONGs e pessoas que se dizem protetores de animais, nas redes sociais, sempre no final pedindo apoio financeiro ou suporte de alguma forma. Na época eu ficava muito chocada em ver a quantidade de cães em estado de negligência no país e como existiam pessoas envolvidas nessa causa.
Cheguei a conhecer muitas dessas pessoas de perto, e conforme fui me familiarizando com esse universo pude entender melhor o porque desse problema e como ele é lucrativo pra muita gente. O mercado de resgate e adoção de cães é gigantesco e move uma quantia em dinheiro muito maior do que muitos imaginam todos os anos. Ao contrário do que muitos pensam, esse dinheiro não vai para os cães, pelo menos não da forma como deveria.
Muitas dessas organizações que se auto intitulam como ONGs, na verdade não tem nenhuma estrutura física decente para acomodar cães. Boa parte dessas ONGs existem apenas no papel, e depois dos ditos resgates os cães vão parar em alguma garagem de uma casa na periferia, junto com mais 30 ou 40 cães, se derem sorte. Muitos desses cães vão para os famosos sítios e passam o resto da vida com mais 400 outros cães comendo comida da pior qualidade e morrendo aos poucos entre brigas e doenças por falta de cuidado e manejo incorretos. A negligência nunca acaba e os cães só trocam de mão.
O dinheiro continua fluindo entre doações pessoais, apoios à deputados e congressistas que se dizem parte da causa animal, e aos novos protetores virtuais que nada fazem a não ser tirar fotos de cães em estado de miséria e postar nas redes sociais. O universo da internet serviu como porta de entrada para a propaganda sensacionalista que toca o ser humano no seu lado mais frágil e faz com ele abra a carteira e ajude mais um cão carente.
Infelizmente os cães continuam sendo explorados, dessa vez por aqueles que dizem ser seus maiores protetores. Esse é um dos motivos pelos quais a causa animal nunca vai acabar. Eles precisam de mais cães nesse estado para continuar promovendo novas organizações, novos políticos, novas campanhas e novos influenciadores digitais que vão continuar ganhando muito dinheiro nesse mercado de projeção lucrativa quase que infinita.
Essa semana eu fiz uma live com alguns convidados falando sobre esse projeto de lei. Falamos sobre cada ponto do projeto e porque o adestramento é pintado como o vilão dessa história. É curioso ver que o adestramento, que seria uma via de educação para os cães e os humanos, é visto como o grande problema, quando na verdade o mesmo seria a real solução. Seria lógico pensar que quando tivermos uma sociedade mais bem educada sobre o convívio com cães, sabendo como treina-los, teremos menos abandono e menos negligência, que nada mais são do que o produto da falta de informação. Porém o que está sendo proposto nesse projeto é exatamente o contrário. A ideia do projeto é impedir que a população use os equipamentos de treinamento adequados ficando assim refém de uma vida sem ordem com seus cães.
O texto é escrito de uma forma grotesca e sem qualquer base de argumentação. É uma tentativa de associar qualquer técnica de disciplina com violência física e mental para os cães, o que está longe de ser uma verdade. O mais triste é saber que muitas pessoas nem vão se dar conta que um projeto como esse está em tramitação, e quando se derem conta, já perderam seus direitos de educar seus cães por conta da opinião de pessoas que nada sabem sobre a vida com esses animais.
O que me deixa mais triste é saber que hoje, mesmo o Brasil sendo um dos países que mais tem cães domésticos de companhia, ainda não existe interesse quase que nenhum sobre a educação dos humanos sobre a domesticação desses animais. É como se os cães tivesses virado apenas um entretenimento para as pessoas, e nada mais. Eles são dados como presente para crianças, são oferecidos como remédios para pessoas com problemas emocionais e são colocados em casas de família apenas porque são mais um elemento de distração interessante naquele momento.
Na mesma velocidade que eles entram na vida das pessoas eles são descartados, pelos erros mais comuns. Nós profissionais vemos isso acontecer todos os dias, e acontece pela falta de interesse sobre o assunto. Todas essas pessoas que pegam cães sem saber o que realmente estão fazendo, e nesse mesmo ritmo os descartam, são as pessoas que apoiam essa famosa causa animal. Curioso não?
A pequena porcentagem de pessoas que realmente se interessa em educar um cão e traze-lo para o convívio real de família, serão as grandes prejudicadas, afinal elas não financiam essa causa animal e fazem a sua parte. As poucas organizações que fazem um trabalho decente, também vão sair perdendo porque agora, nem esse pessoal vai ter a oportunidade de tentar trabalhar esses cães resgatados e dar pra eles uma nova chance.
Meu apelo aqui é para todos vocês que dizem que realmente gostam e querem o bem desses animais. Vejam o vídeo e façam a parte de vocês. Votem contra esse projeto e não deixem essa oportunidade passar. Não podemos mais permitir que os cães sejam explorados dessa forma, e privados de uma vida com mais educação e inclusão. Treinamento de cães e pessoas é o caminho. Mais instrução, mais racionalidade para resolver os problemas e menos sensacionalismo. É isso que vai salvar a vida desses animais.